la vida no es una frutilla


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

capítulo II - trágico - Nunca mais pensou

Abriu a porta do quarto e viu a cama vazia. Sentiu que estava sendo olhada. Deparou-se então com os olhos dele. Imóveis.
Pendurado ao teto por uma corda, ele a fitava desesperançoso.
Não demorou a encontrar a explicação, colada no espelho por um esparadrapo. Caneta Bic.

ELA SE DESPEDIU DE MIM PRA SEMPRE.
ENTÃO PRA SEMPRE ME VOU.

Ajoelhou-se a seus pés e pediu-lhe em prantos que não fizesse isso, que ela estava ali, que não a abandonasse. "Abandonar", pensou. Percebeu que a culpa era dela e só dela, porque tinha se despedido para sempre. Tomou o rumo da estrada. Escutou o barulho do trem. "Para sempre!", suspirou uma vez mais.

Tocou o bolso do casaco por fora. Confirmou que o saquinho estava ali. Sempre esteve, ela nunca o esqueceria entre as cuecas brancas milimetricamente empilhadas.

Tomou o trem. Viajou pela última vez o conhecido trajeto de volta. "Nunca mais", pensou.

sábado, 23 de agosto de 2008

vem! anda comigo... (nao, ainda nao é o próximo capítulo)

trecho de "loucos de cara" - vitor ramil

Poetas loucos de cara
Soldados loucos de cara
Malditos loucos de cara
Ah, vamos sumir!
Parceiros loucos de cara
Ciganos loucos de cara
Inquietos loucos de cara
Ah, vamos sumir!
Vem anda comigo pelo planeta
Vamos sumir!
vem nada nos prende ombro no ombro vamos sumir!
Se um dia qualquer
Tudo pulsar num imenso vazio
Coisas saindo do nada
Indo pro nada
Se mais nada existir
Mesmo o que sempre chamamos real
E isso pra ti for tão claro
Que nem percebas
Se um dia qualquer
Ter lucidez for o mesmo que andar
E não notares que andas
O tempo inteiro
É sinal que valeu!
Pega carona no carro que vem
Se ele é azul, não importa
Fica na tua
Videntes loucos de cara
Descrentes loucos de cara
Pirados loucos de cara
Ah, vamos sumir!
Latinos, deuses, gênios, santos, podres
Ateus, imundos e limpos
Moleques loucos de cara
Ah, vamos sumir!
Gigantes, tolos, monges, monstros, sábios
Bardos, anjos rudes, cheios do saco
Fantasmas loucos de cara
Ah, vamos sumir!
Vem anda comigo pelo planeta
Vamos sumir!
vem nada nos prende ombro no ombro vamos sumir!

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

para sempre

Parou à beira dos trilhos. Aquele calor de janeiro e nenhuma brisa pra aliviar o suor. Sentiu a terra tremer sobre os pés e em seguida escutou o ruído. Lá vinha o trem. Pra sempre, pensou. Pela primeira vez tinha se despedido de alguém com a certeza de que seria pra sempre. Foi lembrando de cada momento retroativamente, como se esquecer fosse uma questão de escolha. Deixou cair nos trilhos a foto que segurava e observou com indiferença o trem que chegava destruí-la.
Era hora de partir. Pra sempre, pensou mais uma vez. Quem a visse embarcar teria a impressão de que era mais uma viagem rotineira. Ela mantinha o olhar acomodado na linha do horizonte. Estava guardando as bagagens quando deu falta do saquinho. O saquinho! Ficou na gaveta da cômoda. Embaixo da pilha de cuecas brancas. Ele tinha as cuecas separadas em três pilhas: brancas, pretas e estampadas. Não podia embarcar sem o saquinho.
Pegou as bolsas de volta e saiu caminhando ao longo dos trilhos, direção oposta. Sentiu o vento quente deixado pelo trem que partia sem ela, e só então percebeu que acabara de mudar o rumo de sua vida. 180 graus, literalmente. Para sempre, pensou.
A felicidade da desistência rasga seu rosto em sorriso, e então o dia já não é tão quente nem a distância tão longa. Chega à casa dele silenciosa, abre o portãozinho, deixa as malas na varanda e chega à sala de braços abertos, esperando encontrá-lo no sofá. Não está. Entra decidida até o fundo do corredor, coração acelerado.

- fim do capítulo -

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

outros tantos

de tão abatida, não se lhe ouvia a voz
de tão esquecida, não soube dizer o próprio nome
de tão inchada, não se encontravam os olhos
de tão decidida, tomou a frente e tropeçou
de tão insegura, deixou de viver
de tão apressada, esqueceu de chegar
de tanto dormir, deixou tudo passar
de tanto dançar, as cadeiras quebraram
de tão faminta, nem sentiu o gosto
de tão ignorante, ignorou a dor - e foi feliz

tinha que ser o chaves mesmo!




pisei. putaqueopariu!

sábado, 16 de agosto de 2008

Você...?

...se matricularia numa academia de nome NARCISO?
...pediria uma piça (pizza) grande sem ruborizar?
...teria medo de domir na sala?
...bate punheta na sacada?
...tem um vizinho que faz isso?
...sabe a diferença entre chorizo e bife de chorizo?
...pensa que o mate gaúcho é amargo?
...resistiria ao cheirinho de medialunas recém saídas do forno?
...comeria as 3 medialunas, já que a promo é um café+3 medialunas?
...prefere medialuna de manteca à de graça (grasa)?
...tomaria un porrón de cerveja?
É que as gurias se mudaram po nosso apê duas semanas antes de mim.

Elas - Maria, a gente tem uma coisa pra te contar, mas não te assusta. - já me assustei. - Tem mais gente morando aqui além da gente.
Eu - Putz! Ratos?
Elas - Não, a Dercy (Gonçalves, em homenagem à recente grande perda brasileira).
Eu - Quem é a Dercy? O QUE é a Dercy?
Elas - Um cadáver de pomba no vaso de planta da sacada. Mas já tá em pena e ossinho, só. Vamos deixar ali, adubando o arbusto. Uma hora some.

BUM!

8h30 de domingo. Acordo com barulho de porrada no vidro. Na sala. A Cris dorme na sala.
- Cris? Tá tudo bem?
- Essas porra dessas pomba vêm cantar aqui de manhã cedo, que saco!
Google. "eliminar pombas". As respostas são desde chumbinho até manifestaçõs indgnadas contra as pessoas que não deixam as pombinhas em paz. A opção mais aplicável parece ser um produto químico de cheiro forte que se aplica com pincel onde elas pousam. Funciona mais ou menos. Reduziu a visitação pombal na sacada, mas não eliminamos todas.

O viúvo da Dercy

Estamos as 3 de pé, café da manhã apressado. De manhã cedo. O despertador tirou a Cris da cama antes que as pombas chegassem. Um pombo chega à sacada e pousa junto ao cadáver da Dercy. Fica ali chorando RUUU RUUU desesperado a morte da palomita que deve ter morrido há um bom tempo, já. Dizem que os pombos demoram mais que os seres humanos para elaborar um luto. Se é que pombos elaboram alguma coisa. Comovente. A Cris nunca mais deu porrada no vidro.

Cocôzinho ou Por que o ar-condicionado não funciona?

O balcãozinho superlegal junto à janela onde tínhamos imaginado cantinho de estudos virou depósito de malas e livros, porque os cabos da tv passam todos ali embaixo e ali não tem tomada pros computadores e o cabo da internet tampouco alcança.
Os livros começaram a amanhecer sujinhos. Tiramos tudo de cima do balcãozinho. Umas bolinha preta. Puta merda, será que temos um camundongo passeando pela casa enquanto a gente dorme? Cris desesperada (ela dorme na sala). Não é rato. É morcego. Alguém lembrou que na casa de alguém já se alojaram morcegos no ar-condicionado. Eles gostam de se alojar nos ar-condicionados. Realmente, tem um barulhinho agudo constante. A Rê acha que são morcegas, que só mora fêmea aqui neste apê.
Google. "eliminar morcegos" + "ar-condicionado". Método mais eficiente: ultrassom. Bah, se usa ultrassom pra tudo, sabiam? Se usa em fisioterapia, em tratamento estético, no dentista, e pra eliminar morcegos também. Não temos dinheiro pra isso. A não ser fosse um investimnto e em vez de estudar psicanálise abríssemos uma empresa de eliminação de moregos em Buenos Aires, o que renderia uma boa grana, já que nos tempos de hoje os moercegos são uma praga urbana tanto quanto as pombas.
Um ia por acaso fomos ao Job's jogar sinuca e pedimos uma pizza sabor napolitana. Era puro alho. Depois daquela nite não ouvi mais os morcegos. Ah, sim, usa-se alho pra matar vampiro, né?

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

tanto

não cabe
não basta
not enough
nunca é
sempre tem
mais
transborda
transcende
atravessa
não cessa
tem pressa
(des)estressa
entrelinhas
estrelinha
seis pontas
ou acrobacia
arco
tela
trapézio
tropeço
peço
(me) despeço
...
re
ti
cên
cias
(co.incidências)
permanência
tanta coisa
fica escrito o resto
apenas
a duras penas

pingos de buenos aires II

  • cerveja em jarra
  • una pinta (de quilmes)
  • boliche - não o jogo nem o armazém de beira de estrada, aqui boliche é lugar pra dançar, e dos bons
  • uma vontade irresistivel de comprar livros livros livros livros
  • sorvete, mesmo no inverno - água na boca!
  • vinho bom e barato em qualquer supermercado
  • sapatinho de salto alto vermelho, meia-soquete branquinha, mini-saia verde. é, elas têm estilo
  • todos os tipos de all-star e afins
  • gorras (treina o erre comigo). eu amo usar gorras. comprar gorras. experimentar todas e nao comprar nenhuma
  • galochas coloridas e divertidas
  • povo perfumado - e de bom gosto

domingo, 10 de agosto de 2008

trilha sonora

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Ainda que exausta, caminhei uma quadra a mais para comprar uma cervejinha. Nada como se jogar no sofá e tomar uma cervejinha com som ligado. jazz.
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Tinha ido dormir tarde. O sono venceu o despertador 3 vezes. O corpo doía em cada músculo. Lembrei do sonho, e daí tirei forças pra levantar. Fui. Fones no ouvido. GO-the best of Moby. Sol. O sorriso quase não cabia na cara.
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Os olhos pesavam. Lágrimas insistentes embaçavam as letras diante de mim e escorriam ainda que sem dor. Era sono. Foi buscar uma água e vi a cuia com saudade de erva. Chimarrão! Aquele velho hábito de tomar solita. A erva já nem era tão amarga. Certas amarguras a gente acostuma, e aí pára de ser ruim.
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Me flagro entrando na cozinha pela 3ª vez. Abrir a geladeira, fechar, abrir uma gaveta, o armário, fechar e sair. Não é sede. Não é fome. É uma vontade muito forte de alguma coisa que -não tem. E não é alfajor Havanna.
_

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Sonho de criança - da série Nunca é tarde...










Já iniciei trapézio.




Posso acordar sem conseguir me mexer, amanhã. Mas serão as dores mais sorridentes que já senti.




. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .








Fui com a Camila e uma "sobrinha" dela de 2 aninhos e meio assistir a este espetáculo FANTÁSTICO.












segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Vamos fazer o seguinte:
Eu te mando o papel em branco, e você me devolve ele escrito.
Quero uma carta, dessas de correio.
Algo que eu possa tocar, cheirar, guadar embaixo do travesseiro.
Chega de coisas virtuais.
Quero palavras com contorno. Escritas a mão.

Ansiosamente,

Uma Menina Carente.



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domingo, 3 de agosto de 2008

des.com.passo

_ _
quando não conseguem dançar
então
ca-da-um-no-seu-qua-dra-do
desa.jeitados
não são dois.pracá.
dois.pralá
é um e um
um.pracá
um.pralá
passos rápidos
música longa
tem a noite toda.prá a.pre(e)nder
ca-da-um-no-seu-ri-t-(a)mo
_ _

tectectectectectec

.
.
.
a cadência do teclado
escreve.apaga.escreve.apaga.
até que decanta
letras que ficam
palavras que se perdem
o mais importante já era.apaguei
- revelava demais de mim




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QUEMAR UN LIBRO
CORTAR UN ARBOL
INTERRUMPIR COITO
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o fabuloso espetáculo da platéia portenha

:
Fomos ao teatro. Assistir CLOSER. A peça. Casa cheia. Frio na rua e dentro do teatro também. No mesmo dia, tínhamos entrado em outra sala de teatro, no meio da tarde de uma quinta-feira, para uma apresentação gratuita de uma orquestra-escola de tango. O público da tarde tinha idade média 73 anos, sendo eu e a Rita, disparado, as duas pessoas mais novas e muito provavelmente as únicas estrangeiras da platéia. À noite, o público era variado. Esses dados são importantes porque o público portenho oferece um espetáculo à parte.
CLOSER. Cena 1. Abrem-se as cortinas. !!Aplausos!! A personagem Alicia está sentada sozinha em um banco, esperando alguém. Entra em cena Daniel. !!Aplausos!! Interagem um bom tempo, até que entra em cena o médico. !!Aplausos!! Cena 2. Personagem Ana sozinha no estúdio fotográfico. !!Aplausos!! Aplausos para cada personagem que entra em cena. Aplausos no início de cada nova cena. No início, não ao final. E, para a minha surpresa, depois de todo esse alarde, ninguém aplaudiu de pé quando terminou a peça.
TANGO. Os argentinos, na platéia do teatro, são que nem criança, reagem a tudo. !Ooh! !Aaah! !!Aplausos!! Na apresentação da orquestra de tango foi assim também, cada vez que o maestro anunciava uma peça ao microfone a platéia reagia, e tinha isso de aplaudir quando a orquestra começava a tocar, e como os velhinhos conheciam todas as músicas, começavam a aplaudir um pouco antes do final de cada uma também, antecipando-se. Coisa mais querida, os velhinhos.
CLOSER. O texto é muito bom, os diálogos muito bem escritos, o que garante alguma qualidade à peça, claro. Mas não gostamos muito, esperávamos mais. O filme é muito melhor. Alguma coisa tava errada ali naquele palco... Então descobrimos, e bem que eu tinha desconfiado. Não era um elenco de ótimos atores argentinos, mas formado pelas carinhas bonitinhas da moda. Uma montagem assim, digamos, mais comercial da peça. Onde a personagem da Natalie Portman foi a mais prejudicada. É que também, depois da Natalie Portman fica difícil. E aquele monte de !!aplausos!! no meio ainda...
A boa notícia é que minha compreensão do espanhol está ótima. E que tá cheio de bons espetáculos aqui pra mim. Segunda-feira acho que até vou num infantil (tá cheio deles, pq é época de férias) de clowns, com a sobrinha da Camila, que tem 2 aninhos.
...

sábado, 2 de agosto de 2008

el tema de las monedas

Em todos os kioscos: "no hay monedas"
Nos locutorios (hay muchos por acá): "pago sólo con monedas. gracias".
No bus (el colectivo): dizer o destino ao motorista, que programa a maquininha para 90 cents ou 1 peso, colocar as moedinhas na maquineta e guardar o papelzinho. a máquina até dpa troco.
No super: a conta foi $69,79 (pesos argentinos), pagas com uma nota de $100, o troco seria $30,21. a moça do caixa pergunta: "quieres donar $0,21 a la institución de niños xxxxx?" e assim te dá apenas os $30 de troco.nenhuma moeda.
Na loja da HAVANNA: compramos dois alfajores. $2,75 cada. Rita paga com uma nota de $5. A mocinha pede "tenés $0,50?" a rita abre a carteira, vejo a moedinha de 50, mas ela responde "no, no tengo monedas", esperta quie está, já aprendeu que moedas são raras. Demoramos algum tempo até entender que a moça não queria $0,50 para faciilitar o troco, e sim porque faltavam $0,50 para pagar os alafajores. Demos uma nota de $2,00. Oba! $1,50 de troco em moedas!!!

QUÉ PASA?

Pasa que não há moedas suficientes em circulação em Buenos Aires, e elas são essenciais para quem pega ônibus ou usa muito orelhão (me incluo nas duas categorias), por exemplo. É coisa de muito valor, uma moedinha. Seja ela de un peso, 50 cents ou menos. Se é moeda, guarda!

Daí que quando preciso pegar ônibus e não tenho moedas, PRECISO comprar ao menos uma VAUQUITA no kiosco, para receber moedinhas de troco. Que sacrifício ;)

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