la vida no es una frutilla


domingo, 31 de julho de 2011

Recorte de MANOEL DE BARROS

XIV

De 1940 a 1946 vivi em lugares decadentes onde o
mato e a fome tomavam conta das casas, dos seus
loucos, de suas crianças e de seus bêbados.
Ali me anonimei de árvore.
Me arrastei por beiradas de muros cariados desde
Puerto Suarez, Chiquitos, oruros e Santa cruz
de La Sierra, na Bolívia.
Depois em Barranco, Tango Maria(oonde conheci o
poeta Cesar Vallejo), Orellana e Mocomonco
- no Peru.
Achava que a partir de ser inseto o homem poderia
entender melhor a metafísica.
Eu precisava ficar pregado nas coisas vegetalmente
e achar o que não procurava.
Naqueles relentos de pedra e lagartos, gostava de
conversar com idiotas de estrada e maluquinhos
de mosca.
Caminhei sobre grotas e lajes de urubus.
Vi outonos mantidos por cigarras.
Vi lamas fascinando borboletas.
E aquelas permanencias nos relentos faziam-me
alcançar os deslimites do Ser.
Meu verbo adquiriu espessura de gosma.
Fui adotado em lodo.
Já se viam vestígios de mim nos lagartos.
Todas as minhas palavras já estavam consagradas de
pedras.
Dobravam-se lírios para os meus tropos.
Penso que essa viagem me socorreu a pássaros.
Não era mais a denúncia das palavras que
importava mas a parte selvagem delas, os seus
refolhos, as suas entraduras.
Foi então que comecei a lecionar andorinhas.

--
Manoel de Barros - Mundo Pequeno - O LIVRO DAS IGNORÃÇAS
[1993]

segunda-feira, 18 de julho de 2011

esqueceram do importante





Antes de começar a escrever sobre o assunto, peço licença à Helena, à Rê, à Lívia, à Cá e às demais colegas do curso de Lady, pois sei que junto com a exemplar professora Z. estarão reprovando minha atitude. Desculpem-me, meninas, mas como a Seleção Brasileira serve como exemplo para muita gente no nosso país, e sei que muitos garotos choraram hoje (especialmente os meninos que erraram os penaltis), acho importante escrever sobre isso e resgatar alguns valores.

(Putz, agora não sei se é mais difícil continuar o post desde a ótica da personagem lady, ou relembrar o que era mesmo que eu ia dizer.)

Ah, sim. Em primeiro lugar, não me surpreende que a seleção brasileira tenha sido eliminada da Copa América (ei, meninas, tive que googlear para confirmar se a competição era mesmo essa!), por um motivo muito simples: Ganso, Pato e Calopsita são aves, e não nomes de campeões. Vejam Ronaldo, Rivaldo, Raí, todos nomes de peso, nomes de jogador de futebol dignos de fazer história! É que os jogadores de futebol hoje se tornaram celebridades, que competem por número de seguidores no twitter e não por número de gols marcados ou títulos conquistados. Não deve ser difícil esquecer do futebol quando os milhões estão garantidos por contratos de 4 anos com algum clube europeu. Depois disso e do penteado que vira moda, o mais importante é fazer uma jogada bonita, é tentar aquele drible tão treinado sobre o zagueiro adversário, é fazer um GOLAÇO. Mas esqueceram-se que na hora do mata-mata, quando o jogo é decisivo, não há espaço para isso. Quando o único resultado possível é a vitória, então não importa como nem quem o faz.
O importante é (simplesmente) fazer gol.



Já dizia um certo baixinho.



:)

domingo, 17 de julho de 2011

right after sunset

Pare para observar sua rotina de trabalho exaustivo e você provavelmente pensará que gostaria de ficar uns dias em casa sem fazer nada, mesmo que fosse em licença saúde e não de férias.
Experimente ficar de repouso em casa por mais de 2 dias e sua saúde mental começará a desandar. Você começará a sentir falta do trabalho, sentirá dor nas costas de tanto dormir ou ficar jogado no sofá, e especialmente, se lembrará de uma série de problemas e afazeres domésticos que estavam muito melhor guardados no fundo da sua psiqué do que aí na superfície. Você provavelmente tentará contato seus amigos, só que seus amigos têm que trabalhar. Então você fará contato com quem você provavelmente não deveria, e certamente se arrependerá depois. Depois de vários dias fazendo nada em casa, nem trabalhando, nem se divertindo com seus amigos, e muito menos bebendo um vinhozinho para enfrentar o frio, você passará a entender os suicidas. E a partir de domingo, a cada entardecer, você sentirá uma depressão profunda, um impulso de cortar os pulsos, uma vontade de dormir eternamente. Você terá plena compreensão de porque as pessoas costumam se matar em dias cinzas, ao anoitecer. E quando pegar no sono, você dormirá até muito tarde - e não é isso que os trabalhadores cansados desejam fazer numa segunda-feira? -, e ao acordar, se sentirá inútil e se deprimirá novamente. É hora de reagir. É hora de a mente obrigar o corpo a se curar na marra. É hora de desobedecer o médico e se livrar das pequenas tarefas domésticas, aproveitar o tempo livre para fazer aquilo que você nunca faz, enfim, é nessa hora também que você lembra daquele livro que poderia ter lido nos momentos de sofá. E quando a licença médica começa a ser finalmente benvinda e divertida, é hora de voltar a trabalhar.

Relato de uma doente.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O Melhor Comercial do Ano



Pra você que gosta de publicidade
Pra você cujo filho não sabe se comportar em supermercado
Pra você que "esquece" de botar a camisinha
Pra você que nunca tem camisinha na bolsa
Ou na carteira
Ou na gaveta
Pra você que não gosta de usar camisinha
Pra você que não acostuma
Pra você que não sabe usar camisinha (como assiiiim?!)
Pra você que não consegue usar (como assiiiim?!)
E pra você que usa
Que cuida
Que ri
Que já esqueceu
Que já tirou
Que já usou todas até acabar
Que morre de medo
Que relaxa
Que parou de usar porque queria ter um filho pra comprar todos os bombons que ele quiser no supermercado

Melhor comercial, né?
;)

sexta-feira, 1 de julho de 2011

feedback



Tinha uma época em que todo mundo no trabalho (todo mundo = colegas, educandos e funcionários de outros setores) vinha me falar da minha cara de cansaço, de sono, ou "abatida", mesmo eu estando bem e tendo dormido bastante. Também tive a oportunidade de ouvir de alguns educandos que sou "muito séria", que fico muito concentrada no computador quando estou escrevendo (comportamento que a colega Carol descreve como autista). Minha colega mais próxima frequentemente me dá feedbacks positivos sobre meu trabalho, pois temos muitas afinidades na forma de intervir. E os mesmos adolescentes que se queixam da minha "ladaia", são os que fazem questão de ser atendidos por mim e não por outro técnico.
Mas hoje recebi um feedback no mínimo curioso. Chegando na minha sala às 8h32, atrasada, com um copo de mocachino da Nescafé e um saquinho da padaria contendo um croissant quentinho, encontro um adolescente sentado à mesa do café, fazendo origamis. Antes que eu revele o conteúdo do saquinho da padaria, ele diz "a senhora tem cara de que gosta de comer coisa que engorda". Como se aquilo em nada afetasse meu complexo de gordinha, respondi que Sim, adoro comer porcaria mesmo, mas como assim coisa que engorda? "Tipo xis', responde ele. Não, até que xis nem tanto, eu ando comendo é muito doce, tipo chocolate. "É um vício que nem droga né?" É, tipo droga... "Eu conheço uma senhora que vendia tudo que ela tinha pra comprar chocolate. vendeu tudo, até os móveis da casa;[pausa dramática] só pra comer chocolate".




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