la vida no es una frutilla


sexta-feira, 18 de junho de 2010

era

antes era como um cubículo hermético e escuro, sem saída e sem comunicação com o mundo exterior. antes, não tinha janela, não tinha dia nem noite, era tudo espera. depois acendeu-se uma luzinha lá adiante, e era possível vê-la por debaixo do vão da porta. não era possível alcançá-la. antes, a luzinha lá adiante mal chegava. e nisso que parecia ser uma porta surgiu uma fechadura, uma pequena fechadura - trancada por fora - que quase deixava trespassar alguma luminosidade outra. mas, mais que a luz, a fechadura deixava entrar esperança. mas as esperanças que entravam pela fechadura não levavam a lugar nenhum, era preciso uma janela, uma saída alternativa, tinha que sair por um lugar diferente daquele pelo qual entrou. então parecia haver lá em cima, perto do teto, uma basculante. uma janelinha basculante fechada, por onde além de alguma luz algum ruído se escutava. já se diferenciava o dia da noite, as manhãs de sol das tardes chuvosas. e os ruídos iam tomando forma, às vezes mar, às vezes vozes, muitas vezes sirenes ou buzinas. cada ruído trazia mais vida. o mundo externo que ia entrando sorrateiramente pela basculante já despertava curiosidade. abriu-se uma janelinha maior, de vidro transparente, e esta não era nada difícil de vencer, bastava coragem ou alguma paciencia. e quando pensou que já estava livre, que tinha vencido todos os obstáculos do cubículo escuro, quando pensou que estar do lado de fora das janelas que lhe conectavam com um recorte de mundo era estar livre, percebeu que no cubículo tinha deixado um pedaço grande de si, pelo qual sentiu enorme nostalgia, mas decidiu seguir adiante mesmo assim. até que uma pergunta no meio do caminho (lá adiante no caminho) plantou sua interrogação gigante querendo interceptar a passagem. dali para adiante todas as noites são de lua nova e todo o sol é ofuscante.

Nenhum comentário:

Total de visualizações de página