la vida no es una frutilla


quinta-feira, 7 de março de 2013

08 de Março. Dia da Mulher. Que mulher?!

Mais um 08 de março chegando, mais um Dia da Mulher sendo celebrado. É dia de receber mensagens dos amigos homens dando os parabéns às suas mulheres mais queridas, é dia de comprar cosméticos em promoção, e eventualmente, de ganhar alguma flor, de preferência uma rosa vermelha. Neste dia os homens lembram-se de ser mais gentis e atenciosos, e de tratar as mulheres como o sexo frágil sem fossem todas especiais. 
Eu, que já nasci numa realidade bem diferente, que não precisei ser operária nem lutar por igualdade de salário e melhores condições de trabalho, porque os psicólogos homens que trabalham na mesma área que eu têm um salário igualzinho ao meu, celebro este dia apenas em respeito às operárias que lutaram e às mulheres que ainda lutam por seus direitos. Mas, pra dizer bem a verdade, eu me entristeço um pouco com esta data especial quenos deram no calendário. 
Acho que depois de 1968 a coisa ficou muito complicada pra nós, mulheres. 400 malucas queimaram sutiãs num concurso de beleza, em protesto contra a visão cultural da beleza feminina, que elas consideravam opressora, e de repente ficou muito difícil se comportar como mulher. Em tempo: sabia que elas nunca queimaram os sutiãs de verdade? Não teve fogo, e não eram apenas sutiãs. Era uma pilha de sapatos de salto alto, batons, sutiãs, maquiagens, cílios postiços, sprays de laquê, espartilhos, enfim, objetos que as ativistas consideravam ícones da opressão às mulheres. Daí nós, das gerações seguintes, resolvemos achar bonito deixar a sombrancelha grossa, andar vestida de menino, trabalhar como machos, passamos a idealizar a independência e a fingir que não nos importamos com casamento, porque é coisa do passado. 
Foi aí que nos perdemos. Agora a mulherada bota toda essa banca de origem feminista, mas não sustenta. E em vez de nos orgulharmos das antecessoras russas que lutaram pelos direitos das mulheres lá em 1917,  só queremos ganhar mais e mais rosas vermelhas e nos sentir especiais. Não apenas dia 08 de março, mas todos os dias. 
No fundo, todas querem ser meio sexo frágil.



2 comentários:

Gabbardo disse...

Acho que essa questão do feminismo é mais uma em que o legado de 1968 foi extremamente negativo.

Criou-se uma ideia de "feminismo" baseado numa concepção de "ego". "Eu" não irei seguir a "visão cultural da beleza feminina"; "eu" assumirei orgulhosamente minha identidade de, sei lá, negra lésbica.

Tudo a favor de quem faz isso; mas o problema é que o feminismo de 68 ficou por aí. Se, por um lado, a figura de uma negra lésbica perturbava (e ainda perturba, nos recantos mais trogloditas de nossa civilização) a sociedade, o fato é que, para uma multinacional, a cor ou orientação sexual de seus operários pouco importa (e daí, possivelmente, a tal feminista negra lésbica consegue ser igualmente... explorada pela tal multinacional).

Pegue-se um ícone feminista de 68, que se tornou quase que um mito: Simone Beauvoir. Por quê que ela se tornou uma referência cultural, talvez "a" referência, quando um/a leigo/a pensa em "feminismo"? Temo que seja por causa de sua relação aberta com Sartre, e por causa de suas posições pró-aborto - o qual, aliás, se tornou a posição central de muitas (pretensas) feministas por aí.

(Ninguém pode me acusar de ser anti-legalização do aborto; o fato do Brasil ainda proibi-lo, a não ser em certos casos, é marca concreta do atraso fundamentalista que contamina grandes setores da sociedade. Mas meu ponto é que o aborto é um ato, e um direito, essencialmente privado - e veja lá o feminismo "ego"; "no MEU corpo ninguém pode mexer").

Olhando para o próprio umbigo, esse feminismo de 68 não se propôs a dialogar mais amplamente com outros setores da sociedade - de maneira bastante diferente do que as feministas russas (ou norte-americanas) faziam.

Francamente: me parece bem melhor uma feminista que desista de sua carreira profissional para cuidar de seus filhos no âmbito de um casamento tradicional e que adore receber rosas vermelhas, mas que seja ativa politicamente, do que uma feminista de sobrancelhas grossas e que anda vestida de menino, mas que não dá a mínima para questões sociais mais amplas.

O post tá longo já, mas para acabar eu queria lembrar de uma feminista: Eleanor Roosevelt. Traída pelo marido, continuou casada com ele, em algo que era menos, e mais, que um matrimônio. Abertamente a favor dos direitos dos negros norte-americanos, ligada aos movimentos trabalhistas da época da Grande Depressão, com casos com pessoas de ambos os sexos.

Eu tenho a triste crença de que as pessoas lembram de Beauvoir por ela ser bonita, e se esquecem de Eleanor por ela ser feia.

Super disse...

é preciso conhecer a historia para dela fazer uso.. continua-la, ou mudá-la.

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