cousas que acontecem

Dia desses a Rê tava com preguicinha de ir à aula de tango, então me propus a acompanhá-la na parceria. Eu até queria aprender tango, mas não era mais um dos investimentos previstos no meu orçamento. Já gasto bastante com as acrobacias, que é muito mais a minha cara. Chegando lá já nos impressionamos com o ensaio que que precedia nossa aula, um nivel bem mais avançado de tango. Mas eu tava desanimada, aquele fim de tarde gostoso pra tomar uma ceva na calçada e eu ali dentro daquele salão fechado, povoado por senhores perfumados, turistas de todas as idades e uma coreana maluca que não fala inglês nem espanhol e fica puxando os homens pra dançar com ela de qualquer jeito, porque na hora de aprender os passos ela fica rodando sozinha em vez de prestar atenção nos profs. Só sei que depois de 1h30min de aula eu tava empolgadíssima e acabei comprando o pacote de 4 aulas por 30 pesos. Agora quero aprender a dançar direitinho e frequentar as milongas buenairenses. Então eu e a Rê iremos todas as quintas no mesmo horário, pra ter aula com o John, nosso professor colombiano que entope de gel os cabelos meio compridos e usa um bigas e um cavanhas muito suspeitos.
Semana seguinte a Maria erra o horário da aula e não vai. Voltei lá quinta passada, já no nível 2. Eu e a Rê. Ela ganhou uma rosa do velho perfumado já no início da aula, e no final eu ganhei também. A aula foi divertidíssima, tanto que aceitamos a sugestão do John pra ir na sexta-feira de noite, que é aula-baile.
Sexta-feira. Dez da noite. Sandália de salto na bolsa e lá vamos nós pra aula de tango. Quer devia começar as 22h30, mas a esta hora o salão ainda estava lotado de gente bailando salsa num clima que me lembrou as multidões aprendendo axé na beira da praia em Porto Seguro. Em volta da pista, mesas ocupadas por pessoas tomando cerveja ou refrigerante e comendo pizza ou batata frita. Baile. E agora, Renatinha? Ficamos? Enquanto a aula não começa, uma ceva (de litro, porsupuesto) pra aquecer. Empurra-empurra. Dou uma cotovelada sem querer numa loira que vira Sprite na sandália de cetim da Renata que fura a cara da loira com o olhar. Meu celular fica no bolso de trás da calça com o vibra acionado caso a Tetê chegue antes do final da aula. Neste horário são 200 alunos, em vez dos 30 da aula de quinta. Não é aula, é show. E baile. O salão dividido em 6 espaços, eu e a Rê no nível 2. O John foi dar aula pro nível 6 no outro salão. Mas não faz diferença, é tão lotado que a gente praticamente não toma conhecimento dos professores. É baile. Um tiozão que exagerou no perfume barato e usa a camisa (branca com listras prateadas) aberta no peito mas pelo menos sabe dançar tira a Rê pra dançar e nunca mais larga ela. Já eu tive azar, só dancei com uns gurizão que não sabiam nada. Não é legal essa aula lotada da sexta-feira de noite.
A cerveja começa a fazer efeito. Não, não fiquei bêbada, tô me mijando e tenho que sair no meio da aula pra fazer xixi. Banheiro de baile. Tem uma senhora que te alcança um papel higiênico e tu pode deixa uma moeda pra ela. Assim o banheiro se mantém limpinho. Xixi. Quando me viro pra puxa a descarga avisto no fundo da patente... meu celular. Meu celular! Aaah! Por sorte era só o meu xixi. E água. A senhora que cuida do banheiro se sensibiliza com meu desespero e liga o ventilador pra secar o celular, e me alcança mais papel, e isso já aconteceu com não sei quem mas voltou a funcionar, e acabou meu baile. Acabou o tango. Tenho que arrancar a Rê do tiozão de camisa aberta (que a esta altura já tá todo suado e nojento) porque é hora de ir pra casa.
Meu chip funciona no cel da Tetê, mas minha agenda tava gravada no aparelho, não no chip. É sexta-feira e eu tinha um monte de aniversários e convites legais pro findi mas não tenho como falar com ninguém. Essa aula de tango da sexta de noite não é boa. É um perigo!