la vida no es una frutilla


quinta-feira, 21 de agosto de 2008

para sempre

Parou à beira dos trilhos. Aquele calor de janeiro e nenhuma brisa pra aliviar o suor. Sentiu a terra tremer sobre os pés e em seguida escutou o ruído. Lá vinha o trem. Pra sempre, pensou. Pela primeira vez tinha se despedido de alguém com a certeza de que seria pra sempre. Foi lembrando de cada momento retroativamente, como se esquecer fosse uma questão de escolha. Deixou cair nos trilhos a foto que segurava e observou com indiferença o trem que chegava destruí-la.
Era hora de partir. Pra sempre, pensou mais uma vez. Quem a visse embarcar teria a impressão de que era mais uma viagem rotineira. Ela mantinha o olhar acomodado na linha do horizonte. Estava guardando as bagagens quando deu falta do saquinho. O saquinho! Ficou na gaveta da cômoda. Embaixo da pilha de cuecas brancas. Ele tinha as cuecas separadas em três pilhas: brancas, pretas e estampadas. Não podia embarcar sem o saquinho.
Pegou as bolsas de volta e saiu caminhando ao longo dos trilhos, direção oposta. Sentiu o vento quente deixado pelo trem que partia sem ela, e só então percebeu que acabara de mudar o rumo de sua vida. 180 graus, literalmente. Para sempre, pensou.
A felicidade da desistência rasga seu rosto em sorriso, e então o dia já não é tão quente nem a distância tão longa. Chega à casa dele silenciosa, abre o portãozinho, deixa as malas na varanda e chega à sala de braços abertos, esperando encontrá-lo no sofá. Não está. Entra decidida até o fundo do corredor, coração acelerado.

- fim do capítulo -

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